sexta-feira, 21 de maio de 2010

Mariana Ximenes fala sobre seu papel em 'Quincas'


Mariana interpreta Vanda


Leitora de Jorge Amado na adolescência, admiradora de narrativas como as de Capitães da Areia, Mar Morto e Dona Flor e Seus Dois Maridos, Mariana Ximenes achava que jamais seria chamada para viver uma personagem de suas tramas. Afinal, não é exatamente uma Gabriela. Quando soube que Sérgio Machado filmaria Quincas Berro D’Água, postulou uma vaga. Conseguiu. Releu o livro, pôs-se a tomar sol, mergulhou na cultura baiana, seus cheiros, cores e orixás, e criou uma Vanda digna de seu autor.

Paulistana radicada no Rio há 12 anos, por causa do trabalho, a atriz já havia estado na terra de Jorge Amado como turista. Tem uma afilhada baiana, filha de uma amiga. Mariana conhecia as delícias da Salvador do Pelourinho e do carnaval. Da experiência intensa dos ensaios e das filmagens, que começaram uma semana depois do fim da novela A Favorita, ficaram o gosto do feijão-de-corda, do acarajé e da manjubinha, a imagem do casario do Santo Antônio, a lembrança do Dia de Iemanjá e o estreitamento dos laços com Paulo José - amigo, guru, pai.

De que forma você entrou no filme?

Soube do projeto e pedi para fazer o teste. Sempre quis fazer um papel numa obra do Jorge Amado, admiro muito seus livros, conheci a Bahia através dele. Mas achava que nunca ia fazer. A equipe também era muito boa. Gostei muito do trabalho do Sérgio no Cidade Baixa. Você vê que ali tem ensaio, tem consistência. O diretor de fotografia (de Quincas), Toca Seabra, é o mesmo de O Invasor (filme de Beto Brant, de 2001, de que participou). E o fato de o Paulo José estar no elenco me seduziu muito.

Como foi sua experiência na Bahia para se preparar para as filmagens?

Tivemos a oportunidade de ensaiar durante dois meses. Acredito muito em processo. Trabalhamos com a Fátima Toledo, sem o texto. Construímos todo um passado daquela família. Pude viver a Bahia intensamente, descobrir os cantinhos que você não conhece como turista. Conheci uma outra Salvador, e isso foi muito especial. Ficamos dois meses criando intimidade, eu, o Luis Miranda, o Irandhir, o Flavio Bauraqui, o Frank Menezes... O Sérgio fez um filme baiano, com B maiúsculo.

Fale um pouco da composição da personagem Vanda, e da "transformação" que ela sofre no filme.

Fazer cinema te permite ter uma linha de composição da personagem. No início do filme você já vê que a Vanda rouba o cigarro da amiga. Mas ela está ali, emoldurada pelos valores caretas da sociedade. É muito interessante ver a curva dessa personagem. Ela vira o Quincas de saias! Tudo aquilo que foi reprimido se solta.

Como foi trabalhar com Paulo José?

Hoje o Paulo é um amigo querido demais. Você não aprende só em cena, mas também com a sabedoria de vida, que só o tempo dá. Fui vizinha de porta do Paulo e da Kika Lopes, figurinista, que é esposa dele, e ela também foi maravilhosa comigo. Ele é um menino serelepe, extremamente sábio, espirituoso, profundo e generoso. No filme, fez um morto com ar jocoso. Incrível.

Depois de Paulo, você agora está convivendo com outros grandes atores, na novela Passione: Fernanda Montenegro, Cleyde Yáconis, Leonardo Villar...

Tem também a Aracy Balabanian, o Tony Ramos... Outro dia eu estava gravando com Cleyde, Fernanda, Leonardo... Pensei: "Peraí, deixa eu entender o que está acontecendo, onde é que eu estou." Essas pessoas fizeram a dramaturgia brasileira! É alucinante. Tento desfrutar da melhor maneira possível, porque é um privilégio você ter esse contato, ver como eles se comportam, como são extremamente disciplinados. Estou tentando não ser clichê no que eu digo, mas é isso mesmo.

Fonte: Folha de S. Paulo

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