quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Mariana Ximenes volta ao teatro com personagem carente e bulímica

Há mais de uma década afastada dos palcos, Mariana Ximenes faz seu retorno pronta para provocar estardalhaço. Dirigida pelo ator Guilherme Weber, que estreia na função, a estrela global interpreta uma, hã, atriz de novelas em "Os Altruístas", peça que inicia temporada em São Paulo nesta sexta-feira (16). Escrito originalmente pelo dramaturgo norte-americano Nicky Silver, o espetáculo utiliza ironia, sátira e humor negro para criticar as neuroses contemporâneas e, de certa forma, a sociedade do espetáculo. Passo nada óbvio, portanto, para a vilã da novela "Passione".

Silver é conhecido no Brasil por "Os Solitários", encenado pela Sutil Companhia de Teatro em 2002 a partir de dois textos do autor, "Homens Gordos de Saias" e "Pterodátilos", remontado recentemente por Felipe Hirsch com Marco Nanini de novo no papel principal. À época, a crueza do trabalho de Silver fez que com algumas pessoas levantassem das poltronas mais cedo e fossem embora.

Dessa vez, o perigo não é tão eminente, mas existe. "É um espetáculo verborrágico, com ritmo ágil e humor extremamente ácido e feroz", comentou Ximenes nesta terça-feira (13), em um encontro com a imprensa. "A gente fala barbaridades, vai muito além do que gostaria que a mãe ouvisse na estreia", acrescentou Kiko Mascarenhas, que vive o irmão da atriz na peça. "Talvez as pessoas se levantem e saiam. Talvez não."



Mariana interpreta Sydney, uma popular atriz de TV, carente, insegura e bulímica. Irônica, se considera uma assistente social porque, afinal de contas, trabalhar em novela funciona quase como um "trabalho voluntário" para a população.

Com seu salário, sustenta o namorado, o mulherengo Tony (Miguel Thiré), e seu grupo de ativistas que luta pelos desprivilegiados com passeatas, comícios e ações sociais, mesmo sem saber muito bem por quê. A revolução, portanto, é bancada pela atriz de novelas.

No elenco original de "Os Solitários" e fundador da Sutil Companhia ao lado de Hirsch, foi Guilherme Weber quem apresentou o texto de "Os Altruístas" a Mariana, já de olho na metalinguagem, no fetiche de fazer uma "atriz interpretar uma atriz" e na possibilidade de brincar com o fato de ela própria ser uma estrela de TV.

"Não teria a menor vontade de montar esse espetáculo sem a Mariana e o peso que ela traz ao dizer o texto e fazer as pessoas se confundirem, de ouvir ela criticar os personagens que representa."

O último trabalho de Ximenes no teatro havia sido em 2000, numa versão de "A Rosa Tatuada", de Tennessee Wiliams. "Vim do teatro, foi onde comecei. Sempre fui apaixonada, queria fazer mais, mas os outros veículos acabaram prevalecendo. Teatro sempre foi minha prioridade. Estive afastada como atriz, mas não como espectadora, com vontade de pular da plateia para o palco." Ela ainda afirmou que não tem previsão de voltar para a TV.

Cross-dressing e perversão

Weber explicou que o humor de "Os Altruístas" fica "bem longe do besteirol e da comédia de costumes", mas acredita que, por outro lado, a peça tem apelo popular. Com relação ao potencial para a polêmica, disse que procurou extrapolar as neuroses exploradas por Silver. "Ele consegue despertar as coisas que a gente tem de pior. Guiado pela dramaturgia dele, sentei e escrevi coisas novas, querendo ir além e buscar a perversão, barroquismos", afirmou o diretor, também responsável pela adaptação.

Uma dessas novidades envolve Ronald (Kiko Mascarenhas), irmão de Sydney. Assistente social gay, ele se apaixona por Lance (Jonathan Haagensen), garoto de programa que deveria ajudar. Inspirado pelo cartunista Laerte, Weber transformou o personagem num crossdresser, um homem que se veste de mulher.

"Já era devoto de Laerte, por, ao lado de outros cartunistas – Angeli, André Dahmer, Fernando Gonzales –, promover uma revolução diária nos jornais, onde o humor no Brasil se mostra mais refinado, mas ele se tornou um dos personagens mais interessantes do ano ao levar para o cotidiano, de forma tão natural, um tema tão inacessível para o público, tão difícil de entender, quanto esse."

Pelo mesmo caminho, o diretor usou outra referência – as superstars de Andy Warhol, homens travestidos que estrelavam os filmes do artista no final da década de 1960 – para orientar Ximenes. "Disse para ela pensar num homem representando uma atriz. Em algum lugar, o personagem tem isso."

Fonte: IG

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